As moças cor de rosa

Para onde foram as moças cor de rosa com os seus exagerados chapéus e vestidos decorados? Onde estão os laços de fita, as luvas lisas e o pó aveludando os rostos das moças? Não as vejo mais levantando xícaras finas dentro de composições do século passado. Nem flertando com rapazes sobrancelhudos durante uma longa ou curta viagem de trem. A última vez que vi uma moça cor de rosa descendo de um vagão, abrindo a sombrinha florida e caminhando ao encontro de alguém foi há muito tempo atrás. Ouvi dizer que elas cairam em um buraco profundo de tecnologia e realidade. Agora ninguém mais anda de saias e tampouco apreciam xícaras. De repente elas torceram o nariz para as rendinhas da vovó e aderiram ao linho para irem falar com Deus aos domingos. Mas com o tempo deixaram o linho de lado, e Deus também. As moças cor de rosa perderam a sua cor original. Pintam-se de todas as cores agora e conseguem se acostumar tão facilmente às novidades humanas, que não se lembram de como eram antes, quando nasciam e morriam cor de rosas. Mas eu me lembro delas. Sou nostalgica, quase uma velha. E não acho errado pensar nisso às vezes, deitada na cama espaçosa de minha mãe e imaginando como seria se ainda existissem aquelas moças. É saudabilíssimo apesar de ser tão doce e deixar exausta a minha estúpida imaginação (...)