DELÍRIO

Hoje eu queria que todos os meus caprichos
fossem respeitados. Um vôo para Nova York e eu estaria sentada em um
balcão de confeitaria, comendo um doce amendoado, com os
olhos
fixos nos táxis amarelos caindo como chuva no reflexo
das
mesinhas. Lá fora, um letreiro informando em inglês que ali havia
pessoas doces
como um sonho, mulheres apressadas com sacolas de papel
e homens
atentos aos jornais que tinham nas mãos. Sete minutos e
eu apanharia a minha
bolsa, indo de encontro aos prédios luminosos
da cidade americana.
Tiraria algumas fotos para amenizar as saudades e
subiria correndo aquela escada
de ferro para me jogar na cama e tirar dos
pés os meus sapatos apertados.
Olharia pela janela manchada pelos meus
próprios dedos e deixaria a
imaginação fluir... Sem conclusões, sem
decisões, sem escolhas ou
mentiras. Sem 'eu te amo' sem amor, sem
incertezas, hipocrisia ou mesmice.
Depois, ligaria para a Thatyana e ia com
ela até o BREWSKY´S. Tomaria algumas
cervejas, conversaria sobre os
homens, receberia ligações desnecessárias e
certamente, faria
amigos alcoolizados e felizes. Tudo para fugir das
despedidas, das aulas
chatas, das pessoas efusivas demais, dos comentários
inúteis e de toda essa tristeza... Um vôo para
Nova York e eu estaria longe da minha vida, saciando
os meus caprichos
mais idiotas.