Há um ano atrás eu estava no banheiro de um alojamento sujo, disputando reflexo em um espelho marcado por dedos. Eu ainda odiava cigarros, mas fumei passivamente durante os três dias em que fiquei instalada em meio as barracas dos jovens socialistas. É impossível não pensar em como mudei de um ano pra cá e em como ainda existem semelhanças intactas daquela época revolucionária. Eu era a mais preguiçosa de todas. E continuo sendo. Perdi amigos e fiz novos ainda mais cretinos. Comecei uma guerra e ganhei. Tive noites insanas e dormi durante os dias nublados. Vi um problema se tornar o caos de toda uma vida e aprendi o sentido da fé. Morri algumas vezes por causas irrelevantes. Chorei e solucei, amei e odiei. E há um ano atrás eu vivia flutuando em vontades que hoje já estão satisfeitas. Restam muitos sonhos ainda. Muitos traumas ainda. Mas há um ano atrás eu também estava a um passo de muitas coisas.