26 de nov. de 2007

UM CAPRICHO DA VIDA REAL

Eu entrei no trem.Sentei-me. Estava feliz. As pessoas ao redor pareciam tão felizes quanto eu; falavam alto, falavam baixo, falavam, falavam, falavam...

O trem ia rápido, O vento ríspido batia nos olhos. Eles fechavam. Os olhos abriam, os olhos fechavam...

Entrou uma menina.

No meio daquele calor ela era o frio. Nos olhos ela tinha a fadiga, na boca tinha a cólera, e na face, a face era suja. Nas mãos pequenas, trazia consigo uma sacola. Dentro dela estava o seu sustento. O pão de cada dia, o feijão de cada noite. A menina mesmo exausta, ia abrindo espaço no meio de toda aquela gente eufórica e quente. Ela precisava vender.

Vendeu pouco.

Encostou-se à porta. Estava tão próxima de mim, mas ao mesmo tempo estava tão longe. Se eu não a estivesse observando tão atentamente, talvez nem tivesse notado sua presença. Sua tímida presença.

Os meus olhos fechavam, os dela giravam. Vagos, úmidos, frios. Eu vencida pelo calor, ela vencida por tudo. Quase tudo, afinal estava na minha frente, estava viva, estava em pé.

O trem foi parando e o maquinista com voz mecânica anunciou Caieiras. Eu desci. A menina esbaforindo-se toda, pegou a sacola e apenas mudou de vagão.

Fui embora, mas fui embora triste.

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