24 de out. de 2007

Estatísticas virando lei...

Uma das aulas que eu mais gosto no colégio é a aula de Geografia. Claro que às vezes eu não suporto nem ouvir falar de Urbanização e o escambau, mas na maioria das vezes acho bem válido assistir com atenção a uma das aulas mais bacanas da noite. A professora é uma revoltada da vida que toca o puteiro sempre que pode. Não, eu não estou criticando-a, muito pelo contrário. Ela sempre dá a cara pra bater em manifestações na praça da Sé e direto vai pra Brasília reivindicar os direitos dela e dos alunos, que daqui a alguns anos estarão expostos a toda essa merda vinda do Distrito Federal.

No começo da semana, na aula de Geografia, a professora nos disse que não daria a aula de quinta-feira. A maioria dos alunos gritou um "VIVAAAA!" ou um "AEEEEEEE!". Eu não gritei, mas tive muita vontade, já que provavelmente naquele dia teríamos uma prova daquelas bem ferradas. Ela então sentou, levantou, sentou denovo. Levantou novamente com um giz na mão e começou a falar o motivo da sua ausência na próxima aula. Enquanto falava, ia rabiscando na lousa algumas palavras e círculos, alguns gráficos, algumas letras pequenas, outras grandes...

Tudo foi ficando claro, os alunos pararam todos para refletir. O motivo da ausência da professora na aula de quinta-feira era uma manifestação em Brasília com mais de 20 mil pessoas presentes. O motivo dessa tal manifestação era o governo que estaria preste a aprovar uma lei que tiraria os 35 anos de contribuição do trabalhador, que ao invés de tê-los teria apenas o direito da aposentadoria com mais 63 anos de idade. Sim, tudo ficou claro. Todos revoltados com a criatividade absurda de alguns e com a falta de vergonha de outros. Tudo muito claro. Tudo muito obscuro também. Então alguns alunos começaram a murmurar, outros fizeram perguntas para a professora, mas um colega foi além e fez um comentário que me deixou bastante perplexa.

"Não foi a professora mesmo que em uma aula dessas disse que a expectativa de vida do brasileiro aumentou? Então é mais do que justo essa nova lei."

A seriedade com que ele me disse àquelas palavras foi tanta, que eu quase me convenci de que realmente tudo fazia sentindo e que se o brasileiro agora vive mais, deve se aposentar mais tarde. Mas foram poucos segundos e logo voltei a pensar como antes, até comentei com ele que aquilo eram apenas estatísticas, meras estatísticas e que muita gente estava morrendo naquele mesmo instante por motivos tão banais quanto aquela nossa discussão.

Acho que não o convenci nem por alguns segundos com esse meu ponto de vista. Também não me importo nenhum pouco, se ele tem uma opinião formada deve saber bem do que esta falando. Mas em casa continuei pensando sobre esse assunto sentada na minha poltrona amarela. Pô, os caras estavam prestes a acabar com a vida dos brasileiros e eu era uma brasileira, eu sou uma brasileira, logo me ferraria no futuro com essa aprovação, logo o meu próprio colega se ferraria, todos nós nos ferraríamos com isso.

Ok! mas semana que vem a professora volta de Brasília e com certeza vai contar tudo o que aconteceu nessa manifestação. Talvez nada mude. Talvez a lei seja aprovada. Talvez a estatística decida por todos nós. Agora só me resta esperar...

2 comentários:

André Ranieri disse...

O que mais chamou minha atenção no post foi a atitude do moleque. Ele mandou muito bem. Enquanto alguns só sabem reclamar, ele parou um pouquinho e raciocinou. Não que esse ponto de vista esteja certo ou errado, mas o que valeu foi a atitude do rapaz. Mandou Bem!

Aline disse...

Grandeee pensador esse companheiro de turma seu hein rss
por essas e outras q nosso País está do jeito q está!
bjaooo bruuu