Ponto de reflexo

Exatamente é uma palavra arriscada. Bater os pés (ou cravar as letras digitadas) sobre datas, pessoas e imagens poderia me bastar. Mas a incerteza, apesar de não denotar credibilidade, é misteriosa e combina mais com as minhas preferências. Reflexos também são atraentes. Não confundam espelhos limpos com os meus reflexos. Espelhos limpos podem ser comparados a águas cristalinas, que apesar de transparentes, distorcem a mais desenhada das faces. E assim eles são. Nos espelhos limpos, enxergamos a verdade do que somos. As cores, os traços, os rabiscos que não podemos apagar naturalmente... Tudo fica nítido diante de um espelho asseado. Mas a distorção é a mesma. Até hoje, chorei mais do que sorri diante do meu perfeito reflexo. Perfeição, acreditem, não é isenção de manchas ou cicatrizes. Perfeição é a realidade do que somos, o caminho que percorremos até que chegássemos a tal ponto. Perfeição existe e pode, como também não necessariamente, ser bonita e impressionante. Mas os reflexos que amo, como amo as vidas que ali estão refletidas, não são perfeitos. Na tela de um computador, a janela que ao fundo reflete, esbanja um céu nublado que está maravilhando a minha tarde. Apesar de preferir o céu azulado, hoje estou rendida a esse cinza claro que reflete no monitor. Está tudo misturado. Cor do céu, cor da janela, antenas das casas vizinhas, pássaros que hora e outra refletem ligeiramente sem qualquer perfeição... É bonito de ver. Mas não tenho certeza de que o que enxergo daqui, é o que realmente existe lá fora. O reflexo do monitor não é limpo, não é nítido e tampouco perfeito. E ao contrário do espelho limpo, me dá esperança de que tudo seja ainda melhor do que realmente é.