26 de jan. de 2009

O tempo do sorriso

Agora eu acordo no melhor do sono. Aquele momento sagrado, silencioso, cheio de imagens radiantes de cores falsas e efeitos de fumaça. Bato perna remunerada até o ponto de ônibus, cumprimento o cobrador, sento, e percebo que cinco pessoas ali já são conhecidas. Sei de cor as casas que vem ao encontro da janela úmida, as árvores carentes, os postes e os tênis pendurados nos fios da entrada principal da cidade. Desço do ônibus sentindo o peso da responsabilidade do "chegar". Sinto que algumas pessoas me olham, mas a maioria está concentrada demais em qualquer outra carne ou alma. Ou nos próprios sapatos. Atravesso um calçadão desenhado, vejo o meu reflexo no espelho da loja, levanto a cancela e estou na rua preguiçosa onde está o meu prédio-destino. A manhã não é tão bonita naquela cidade, como aqui. Da janela só posso ver outras janelas. Mas os sorrisos na sala de espera são encantadores, tanto quanto os que se mostram nas ruas de C. Outro dia, sentada de frente ao sofá, vi chegando uma senhora com aparentemente quarenta anos nas pernas, cheia de sacolas com não-sei-o-que dentro e um arco dividindo os cabelos difíceis. Claro que, só pelo fato de estar entrando em um consultório odontológico, logo se imagina dentes maltratados e um sorriso sofrido. Mas quando a mulher ergueu as bochechas e sorriu, derreti-me em simpatia. Os dentes eram como imaginava, precisavam de tratamento, talvez só uma extração daria jeito... Mas imaginem só: enquanto a mulher sorria entre as palavras que fugiam da boca, o vento passou por lá, tremeu as cortinas e saiu pelo corredor a fora; a lapiseira riscou um "OK" no livro de consultas, em frente ao nome da mulher; os comerciais de TV esgotaram-se nos segundos e o programa da manhã retornou ao ar com a culinária do dia; o telefone tocou pedindo sinal de fax; e a dentista abriu a porta dizendo para que ela entrasse de uma vez. Um sorriso daqueles de bom-dia sincero e humano, que desperta a vontade de sorrir de volta e respirar aliviada: Ainda existem pessoas de carne, osso e coração.


Dedicado à todos os pacientes (que sorriem pra mim) da Dr. Fernanda Mari.


11 comentários:

Erica de Paula disse...

Ainda bem que existem pessoas assim...nem tudo está perdido!

Lindo texto!

Bjs :)

Anônimo disse...

Muito bom...bom mesmo.


[normalincomum.zip.net]

Sergio disse...

Nesse calor bafo e mormaço você lufa seu frescor, Bruna Bo.

Taí! Mais uns Bs pra tua coleção BB: tu é bem brisa.

Ps.: O correio ficou pra semana que vem.

Unknown disse...

Tá bom, deixa eu ver.
Você trabalha de "secretaria" de uma dentista em Franco?
é isso?!.
kkkkkkkkkkk³
adoreei Bruna, e tava aqui pensando, acho que já ti vi siim, é impossivel não ter vista, Caieiras é um ovo! o.O

beeijo

Ná Lima disse...

Hehehe
é muito bom qndo encontramos pessoas assim! O texto tá muito bom, perfeito!

:)

beijocas:*

Alessandra Castro disse...

Ahh é realmente raro encontrar bons exemplos. É um molde que tá em falta nos dias de hoje.

Fernanda H.A. disse...

As vezes não sorrio, esqueço que é bom pra visão alheia.
Vou sorrir mais apartir de hoje!

Adorei o texto!
bgsmil

Sthéfanie Louise disse...

ah que gracinhaa *-*
se eu morasse ai iria me consultar com a Fernanda (ai que medo) só pra te ver =P
hahaha
;**
saudades

n.Z disse...

é incrível como conseguimos ver o jeito da pessoa por um simples gesto que seja né?
nossa esse texto ficou muito mágico, esse jeito com que você escreve eu acho fascinante. meus sinceros parabéns..
bjs

Anônimo disse...

Bruuuuu...quanto tempo não venho por aqui!!! Selo, lay...tudo muito bommm...

Lindo esse texto...Pra gente ser feliz é necessário tão pouco né?! O pouco que é muitoooo.


BJoooo

Carolina H. disse...

Oláaaaaaaa, eu te indiquei para um selo lá no meu blog ;D

Beiejos (: