Da janela, a primavera...

Hoje eu fiz algo que há anos não fazia. Apaguei a luz do meu quarto, subi na janela, coloquei os fones no ouvido e fiquei mais de duas horas olhando o meu bairro do alto. Eu tinha me esquecido de como era boa a sensação de estar com os pés soltos, sentindo o vento acarinhando as minhas bochechas e a música invadindo fundo a minha mente inquieta. Lá em cima o céu parece estar mais perto de mim. As nuvens posam desinibidas e a cada segundo um desenho diferente se forma no ar. É a exposição da arte do céu que se embaralha no fundo negro da minha paisagem, deixando tudo mais bonito. Eu realmente estava com saudades disso. E posso dizer que o meu lugar é lá, no alto, mais perto do céu, quando ele está tingido de preto e recheado de estrelas luminosas. Se eu pudesse faria o tempo parar ali, enquanto a vida toma fôlego e se debruça comigo no para-peito da janela. Tudo para que pudéssemos entrar em um acordo gentil de equilíbrio, deixando a saudade um pouco fora desse meu momento. É que apesar de ainda ter o cheiro da noite em minhas narinas e a lembrança daquele instante acalmando os meus extintos, sinto muita falta de objetos e pessoas que perdi com o tempo, com o dia que cai rápido demais e com a noite que tem síndrome de Peter Pan... Mas talvez eu saiba exatamente porque ainda tenho saudades. Preciso de um motivo pra querer a vida mais perto, monólogos comigo mesma, intimidade com o meu corpo e com a minha alma. Isso não pode se perder como os desenhos que o céu não eterniza e deixa o vento bagunçar. Porque entre o céu e o inferno, eu fico com a minha janela...